ESTOU QUE NEM POSSO

terça-feira, janeiro 06, 2004

Devo estar a ficar afectado!
Nunca tal ideia me passou pela cabeça. Mas hoje, intempestivamente, decidi medir forças com a lua.
Usando a caneta como interlocutora e como conselheiro o mar travei uma intensa discussão com esse maquiavélico satélite.
Em cada investida minha, recebia sempre o mesmo semblante sereno como se nada a atingisse. Grande hipócrita! Não tem ela consciência dos seus actos?! Quer-me fazer crer com a sua candura alva que não exerce qualquer poder? Que não é dotada de uma misteriosa e contagiante força?
O mar bem me tenta dissuadir... Com uma cadência rítmica sussurra-me calma, sobe de tom suave e inperceptivelmente até que à 7ª nota brada : Basta! - Mas julga ele que não sei que é comandado pelo pequeno ponto que ofereceu um grande passo à Humanidade? - Hoje ele não me seduz, quando logo após a exaltação quase silencioso me sugere calma.
Se não o posso ter como conselheiro e se a iluminada recusa-se ao diálogo tal qual déspota do Antigo Regime, então encarcero-me em mim.
Isolo-me e faco como Descartes procurando a minha primeira certeza. Valha-me o solipsismo. Valha-me o egocentrismo e até a auto-estima. Valha-me acima de tudo as reservas quase ilimitadas que dobram a lua e a forçam ao seu desvanecimento.
À espreita do quarto aguardo pela sua próxima tirania trajada com a armadura de luz branca.
Mas que seja ela a aguardar-me! Da próxima garanto-lhe um eclipse! E não será nem a Terra, nem o Sol a ofuscá-la!
A minha decisão está tomada.
RV
Rui Vieira 10:18 da tarde |