ESTOU QUE NEM POSSO

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

E se um dia te sentires inútil ou deprimido, lembra-te disto:
já houve um dia em que foste o espermatozoide mais rápido do grupo!
C.A.
Rui Vieira 7:30 da tarde |

terça-feira, fevereiro 10, 2004



"(...)

Andando, o principezinho encontrou um jardim cheio de rosas. Contemplou-as...Eram todas iguais à sua flor.

E deitado na relva, ele chorou...

Foi então que apareceu a raposa.

- Olá, bom dia! - disse a raposa.

- Olá, bom dia! - respondeu delicadamente o principezinho que se voltou mas não viu ninguém.

- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.

- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...

- Sou uma raposa - disse a raposa.

- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho. - Estou triste...

- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Não estou presa...

- AH! Então, desculpa! - disse o principezinho.

Mas pôs-se a pensar, a pensar, e acabou por perguntar:

- O que é que "estar preso" quer dizer?

- Vê-se logo que não és de cá - disse a raposa. - De que é que tu andas à procura?

- Ando à procura dos homens - disse o principezinho. - O que é que "estar preso" quer dizer?

- Os homens têm espingardas e passam o tempo a caçar - disse a raposa. - É uma grande maçada! E também fazem criação de galinhas! Aliás, na minha opinião, é a única coisa interessante que eles têm. Andas à procura de galinhas?

- Não - disse o principezinho. Ando à procura de amigos. O que é que "estar preso" quer dizer?

- É a única coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.

- Laços?

- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...

- Parece-me que estou a começar a perceber - disse o principezinho. - Sabes, há uma certa flor...tenho a impressão que estou presa a ela...

- É bem possivel - disse a raposa. - Vê-se cada coisa cá na Terra...

- OH! Mas não é da Terra! - disse o principezinho.

A raposa pareceu ficar muito intrigada.

- Então, é noutro planeta?

- É.

- E nesse tal planeta há caçadores?

- Não.

- Começo a achar-lhe alguma graça...E galinhas?

- Não.

- Não há bela sem senão...- disse a raposa.

Mas a raposa voltou a insistir na sua ideia:

- Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu, caço galinhas e os homens, caçam-me a mim. As galinhas são todas iguais umas às outras e os homens são todos iguais uns aos outros. Por isso, às vezes, aborreço-me um bocado. Mas, se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Eu não como pão e, por isso, o trigo não me serve de nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar de nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando eu estiver presa a ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do barulho do vento a bater no trigo...

A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o principezinho.

- Por favor...Prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.

- Eu bem gostava - respondeu o principezinho - mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer...

- Só conhecemos as coisas que prendemos a nós - disse a raposa. - Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada. Compram as coisas já feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, prende-me a ti!

- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.

- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não me dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...

O principezinho voltou no dia seguinte.

- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito...São precisos rituais.

- O que é um ritual? - perguntou o principezinho.

- Também é uma coisa de que toda a gente se esqueceu - respondeu a raposa. - É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias e uma hora, diferente das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, têm um ritual, à quinta-feira, vão ao baile com as raparigas da aldeia. Assim, a quinta-feira é um dia maravilhoso. Eu posso ir passear para as vinhas. Se os caçadores fossem ao baile num dia qualquer, os dias eram todos iguais uns aos outros e eu nunca tinha férias.

Foi assim que o principezinho prendeu a raposa. E quando chegou a hora da despedida:

- Ai! - exclamou a raposa - ai que me vou pôr a chorar...

- A culpa é tua - disse o principezinho.- Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim...

- Pois quis - disse a raposa.

- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.

- Pois vou - disse a raposa.

- Então não ganhaste nada com isso!

- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...

Depois acrescentou:

- Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. Quando vieres ter comigo, dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo.



O principezinho lá foi ver as rosas outra vez.

- Vocês não são nada parecidas com a minha rosa! Vocês ainda não são nada - disse-lhes ele. - Não há ninguém preso a vocês e vocês não estão presas a ninguém. Vocês são como a minha raposa era. Era uma raposa perfeitamente igual a outras cem mil raposas. Mas eu tornei-a minha amiga e, agora, ela é única no mundo.

E as rosas ficaram bastante incomodadas.

- Vocês são bonitas, mas vazias - ainda lhes disse o principezinho. - Não se pode morrer por vocês. Claro que, para um transeunte qualquer, a minha rosa é perfeitamente igual a vocês. Mas, sózinha, vale mais do que vocês todas juntas, porque foi a que eu reguei. Porque foi a ela que eu pus debaixo de uma redoma. Porque foi ela que eu abriguei com o biombo.. Porque foi a ela que eu matei as lagartas (menos duas ou três, por causa das borboletas). Porque foi a ela que eu vi queixar-se, gabar-se e até, às vezes, calar-se. Porque ela é a minha rosa.

E então voltou para o pé da raposa e disse:

- Adeus...

- Adeus - disse a raposa. Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...

- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.

- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com aminha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.

- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa...

- Sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.

(...)"

Antoine de Saint_Exupéry, O Principezinho

C.M.

Rui Vieira 11:49 da tarde |
UMA VERSÃO MAIS REDUZIDA...


"E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu delicadamente o principezinho
que se voltou mas não viu nada.

- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho.
Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo,
propôs o príncipe, estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa.
Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer "cativar" ?
- Tu não és daqui, disse a raposa.
Que procuras?

- Procuro amigos, disse.
Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida,
disse a raposa. Significa "criar laços"...
- Criar laços?

- Exatamente,disse a raposa.
Tu não és para mim senão um garoto
inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas,
nós teremos necessidade um do outro.
Serás pra mim o único no mundo.
E eu serei para ti a única no mundo...

Mas a raposa voltou a sua idéia:
-Minha vida é monótona.
E por isso eu me aborreço um pouco.
Mas se tu me cativas,
minha vida será como que cheia de sol.

Conhecerei o barulho de passos
que será diferente dos outros.
Os outros me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora como música.
E depois, olha!
Vês, lá longe, o campo de trigo?
Eu não como pão. O trigo para mim é inútil.
Os campos de trigo não me lembram coisa alguma.
E isso é triste!

Mas tu tens cabelo cor de ouro.
E então serás maravilhoso
quando me tiverdes cativado.
O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti.
E eu amarei o barulho do vento do trigo...

A raposa então calou-se e
considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera disse o príncipe,
mas eu não tenho tempo.
Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.

- A gente só conhece bem
as coisas que cativou, disse a raposa.
Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma.
Compram tudo prontinho nas lojas.
Mas como não existem lojas de amigos,
os homens não têm mais amigos.
Se tu queres uma amiga, cativa-me!
- Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer."

(Trecho do Livro Pequeno Príncipe, Cap.XXI)
Antoine de Saint-Exupéry

C.M.
Rui Vieira 11:41 da tarde |
Quando tinha 14 anos, esperava ter uma namorada algum dia.
Quando tinha16 anos tive uma namorada, mas não tinha paixão.
Então percebi que precisava de uma mulher apaixonada, com vontade de
viver.

Na faculdade saí com uma mulher apaixonada, mas era emocional
demais.Tudo era terrível, era a rainha dos problemas, chorava o
tempo todo e ameaçava de se suicidar. Descobri que precisava de uma
mulher estável.

Quando tinha 25 encontrei uma mulher bem estável, mas chata.
Era totalmente previsível e nunca nada a excitava. A vida tornou-se
tão monótona que decidi que precisava de uma mulher mais excitante.

Aos 28 encontrei uma mulher excitante, mas não consegui
acompanhá-la. Ia de um lado para o outro sem se deter em lugar
nenhum. Fazia coisas impetuosas, paquerava com qualquer um e que me
fez sentir tão miserável quanto feliz. No começo foi divertido e
eletrizante, mas sem futuro.

Decidi buscar uma mulher com alguma ambição. Quando cheguei nos 31,
encontrei uma mulher inteligente, ambiciosa e com os pés no chão.
Casei com ela. Era tão ambiciosa que pediu o divórcio e ficou com tudo o
que eu tinha.

Hoje, com 40 anos...quero uma mulher com mamas grandes.
C.A
Rui Vieira 9:37 da tarde |

domingo, fevereiro 08, 2004

Por não estarem distraídos

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.

Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima
embriaguez que era a alegria da sede deles.

Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto.
No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais
erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.
Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de
casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já
cortou os fios.
Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

Clarice Lispector


Rui Vieira 9:40 da tarde |
Não te Amo / Eu te Amo


"Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais..."


Ler agora de baixo para cima :-)



Clarisse Lispector
Rui Vieira 9:39 da tarde |
AS ENCRUZILHADAS DE DEUS


POEMA DO SILÊNCIO


Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

José Régio

C.M.
Rui Vieira 9:30 da tarde |

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Prefiro cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos nas margens do Warta.
Prefiro Dickens a Dostoievski.
Prefiro-me gostando dos homens
em vez de estar amando a humanidade.
Prefiro ter uma agulha preparada com a linha.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não afirmar
que a razão é culpada de tudo.
Prefiro as excepções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar com os médicos sobre outra coisa.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não os escrever.
No amor prefiro os aniversários não redondos
para serem comemorados cada dia.
Prefiro os moralistas,
que não prometem nada.
Prefiro a bondade esperta à bondade ingénua demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos países conquistadores.
Prefiro ter objecções.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de fada de Grimm às manchetes dos jornais
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães com o rabo não cortado.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que aqui não disse,
a outras tantas não mencionadas aqui.
Prefiro os zeros à solta
a tê-los numa fila junto ao algarismo.
Prefiro o tempo do insecto ao tempo das estrelas.
Prefiro isolar.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando
Prefiro levar em consideração até a possibilidade
do ser ter a sua razão.

Winslawa Szymborska

C.M.
Rui Vieira 3:58 da tarde |
A Bailarina

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina

Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé

Não conhece nem mi nem fá
mas inclina o corpo para cá e para lá

Não conhece nem lá nem si
mas fecha os olhos e sorri

Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.

Cecília Meireles

C.M.
Rui Vieira 3:57 da tarde |