ESTOU QUE NEM POSSO

quarta-feira, junho 30, 2004

O HINO ORIGINAL...

A "Portuguesa" (1890)

Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Oh Pátria, sente-se a voz
dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às Armas! Às Armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Pela Pátria lutar
Contra bretões marchar, marchar

Desfralda a invicta bandeira
À luz viva do teu Céu!
Brade a Europa à terra inteira;
Portugal não pereceu.
Beija o solo jucundo
O Oceano a rugir de amor;
E o teu braço vencedor
Deu mundos novos ao mundo!

Às Armas! Às Armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Pela Pátria lutar
Contra bretões marchar, marchar

Saudai o Sol que desponta
Sobre o ridente provir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal de ressurgir!
São como beijos de mãe
Que nos guardam, nos sustêm
Contra as injúrias da sorte!



Alfredo Keil (música)
Henrique Lopes de Mendonça (letra)



http://www.prof2000.pt/users/nsilvestre/Lyrics_Pt.Anthem.htm

Rui Vieira 8:01 da tarde |
História do Hino Nacional

O hino nacional é uma composição de Alfredo Keil, com palavras de Henrique Lopes de Mendonça, intitulada A Portuguesa. Alfredo Keil compôs o hino nos últimos dias de Janeiro de 1890, no próprio instante em que vibrava fortemente no País o protesto contra o ultimato britânico. Tinha-se constituído a Grande Comissão Nacional que, por meio de festas e subscrições públicas, angariou avultadas quantias que foram aplicadas na construção do cruzador "Adamastor" e da canhoneira "Pátria". A convite insistente do glorioso artista, Henrique Lopes de Mendonça compôs as estrofes enquadradas na bela peça musical. O hino foi executado pela primeira vez, na noite de 1 de Fevereiro de 1890, no sarau realizado no antigo Coliseu de Lisboa, por iniciativa da Associação Musical 24 de Junho e da comissão executiva de aspirantes da Marinha, a favor da subscrição para a defesa nacional. Duas vezes executado por banda e fanfarra. A Portuguesa foi ouvida de pé e motivou manifestações patrióticas de indescritível entusiasmo. Na mesma época, a representação no entre acto "A Torpeza", de campos Júnior, no extinto Teatro da Alegria, terminou com a execução do hino. Fez-se uma edição da música e letra e inúmeros exemplares desta edição foram distribuídos por todo o País, principalmente pelas bandas, sociedades de recreio e teatro. Desde então, o hino começou a ser tocado, sempre que para isso se encontrasse o menor pretexto, e não era raro que o povo o entoasse nas ruas. Teve a sua maior consagração noutro sarau em favor da subscrição nacional, realizado no Teatro S. Carlos, em que os solos foram cantados pelos principais artistas da companhia lírica e o estribilho por um coro de numerosas figuras. Foi adoptado pelos revolucionários do 31 de Janeiro, no Porto, que o fizeram tocar, na hora febril, pela banda que antecedia a coluna republicana. Passou então a ser o hino revolucionário contra o regime monárquico. Apesar de todas as proibições e da sistemática perseguição policial, não deixou de ser cantado ou tocado em manifestações republicanas. O governo provisório da República fê-lo adoptar como hino nacional e conferiu-lhes todas as honras militares e civis. No final dos seus concertos em praças públicas, nos primeiros tempos do regime republicano, A Portuguesa foi executada por bandas militares, com o fim de a tornar reconhecida e acatada. Actualmente é tocada em cerimónias oficiais que tenham a presença do chefe do Estado e de diplomatas estrangeiros e nas grandes solenidades militares e civis.

http://www.terravista.pt/PortoSanto/2138/hino.htm
Rui Vieira 7:05 da tarde |
HINO NACIONAL - Antecedentes

Se a Bandeira Nacional é um símbolo visível, o Hino Nacional constitui a exteriorização musical que proclama e simboliza a Nação.

Só a partir do século XIX os povos da Europa criaram o uso de cantar os hinos, quando um movimento de opinião levou a que cada estado estabelecesse uma composição, com letra e música que fosse representativa e oficial. Até então os povos e os exércitos conheciam apenas os cantos e os toques guerreiros próprios de cada corpo e as canções relativas aos acontecimentos dignos de memória.

Durante a Monarquia, o ideário da Nação Portuguesa estava consubstanciado no poder do rei. Não havia a noção de um hino nacional, e por isso as peças musicais com carácter público ou oficial identificavam-se com o monarca reinante.

Neste contexto, ainda em 1826, em Portugal era considerado como hino oficial o Hymno Patriótico, da autoria de António Marcos Portugal.

Este hino inspirava-se na parte final da cantata La Speranza o sia l'Augurio Felice, composta e oferecida pelo autor ao Príncipe Regente D. João quando este estava retirado com a Corte no Brasil, e que foi representada no Teatro de São Carlos em Lisboa, a 13 de Maio de 1809 paracelebrar o seu aniversário natalício.A poesia do Hymno Patriótico teve diferentes versões face às circunstâncias e aos acontecimentos da época, tornando-se naturalmente generalizada e nacional pelo agrado da sua expressão marcial, que estimulava os ânimos aos Portugueses, convidando-os à continuação de acções heróicas. Com o regresso do Rei ao País, em 1821, o mesmo autor dedicou-lhe um poema que, sendo cantado com a música do Hino, rapidamente se divulgou e passou a ser entoado solenemente. Entretanto, na sequência da revolução de 1820, foi aprovada em 22 de Setembro de 1822 a primeira Constituição Liberal Portuguesa, que foi jurada por D. João VI. D. Pedro, então Príncipe Regente no Brasil, compôs o Hymno Imperial e Constitucional, dedicado à Constituição.

Após a morte do Rei, e com a subida de D. Pedro IV ao trono, este outorgou aos portugueses uma Carta Constitucional. O hino de sua autoria generalizou-se com a denominação oficial de Hymno da Carta, tendo sido considerado oficialmente como Hymno Nacional e por isso obrigatório em todas as solenidades públicas, a partir de Maio de 1834.

Com a música do Hymno da Carta compuseram-se variadas obras de natureza popular (modas) ou dedicadas a acontecimentos e personalidades de relevo, identificando-se em pleno com a vida política e social dos últimos setenta anos da Monarquia em Portugal.

Nos finais do século XIX, A Portuguesa, marcha vibrante e arrebatadora, de forte expressão patriótica, pela afirmação de independência que representa e pelo entusiasmo que desperta, tornara-se, naturalmente e por mérito próprio, um consagrado símbolo nacional, na sua versão completa:

I
Heróis do mar, nobre Povo,
Nação valente, imortal
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

II
Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O Oceano, a rugir d'amor,
E o teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

III
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal de ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!


Porém, o Hino, que fora concebido para unir os Portugueses em redor de um sentimento comum, pelo facto de ter sido cantado pelos revolucionários de 31 de Janeiro de 1891, foi desconsiderado pelos monárquicos e proibida a sua execução em actos oficiais e solenes.

Quando da implantação da República em 1910 A Portuguesa aflora espontaneamente de novo à voz popular, tendo sido tocada e cantada nas ruas de Lisboa.

A mesma Assembleia Constituinte de 19 de Junho de 1911, que aprovou a Bandeira Nacional, proclamou A Portuguesa como Hino Nacional.

Era assim oficializada a composição de Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça que, numa feliz e extraordinária aliança de música e poesia, respectivamente, conseguira interpretar em 1890, com elevado sucesso, o sentimento patriótico de revolta contra o Ultimato que a Inglaterra, em termos arrogantes e humilhantes, impusera a Portugal.

Em 1956, constatando-se a existência de algumas variantes do Hino, não só na linha melódica, como até nas instrumentações, especialmente para banda, o Governo nomeou uma comissão encarregada de estudar a versão oficial de A Portuguesa, a qual elaborou uma proposta que, aprovada em Conselho de Ministros em 16 de Julho de 1957, é a que actualmente está em vigor.

O Hino é executado oficialmente em cerimónias nacionais civis e militares onde é rendida homenagem à Pátria, à Bandeira Nacional ou ao Presidente da República. Também, quando se trata de saudar oficialmente em território nacional um chefe de Estado estrangeiro, a sua execução é obrigatória, depois de ouvido o hino do país representado.

http://www.presidenciarepublica.pt/pt/republica/simbolos/hinoant.html
Rui Vieira 6:45 da tarde |

sexta-feira, junho 04, 2004

Trabalhar cansa

Atravessar uma rua para fugir de casa
só um rapaz o faz, mas este homem que vagueia
todo o dia pelas ruas já não é um rapaz
e não foge de casa.

Há no Verão
tardes em que até as praças ficam vazias, estendidas
ao sol que vai pôr-se, e este homem que chega
por uma avenida de árvores inúteis pára.
Vale a pena ser-se só, para se estar cada vez mais sozinho?
Percorrê-las apenas – as praças e as ruas
estão vazias. Havia que parar uma mulher
e falar-lhe e convencê-la a viverem juntos.
Doutro modo fala-se sozinho. É por isso que às vezes
vem abordar-nos o bêbado nocturno
e conta os projectos de toda a vida.

Não é certamente ficando à espera na praça deserta
que se encontra alguém, mas quem anda pelas ruas
de vez em quando pára. Se fossem dois,
mesmo a andar pelas ruas, a casa seria
onde está essa mulher e valeria a pena.
De noite a praça volta a ficar deserta
e este homem que passa não vê as casas
entre as luzes inúteis, já não levanta os olhos:
sente apenas o empedrado, que outros homens fizeram
com mãos calejadas, como as suas.
Não é justo ficar na praça deserta.
Anda certamente na rua aquela mulher
que, rogada, havia de querer dar uma mão à casa.

[CESARE PAVESE, Trabalhar Cansa]

Rui Vieira 12:14 da manhã |

terça-feira, junho 01, 2004

DO NADA AO NADA

Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.

Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.

Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:

Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.

CAETANO VELOSO
Rui Vieira 1:05 da manhã |